Meta description
O Paquistão assinou um MoU com a Binance para explorar a tokenização de até US$ 2 bilhões em ativos soberanos e deu sinal verde inicial para Binance e HTX iniciarem licenciamento local. Entenda estratégia, benefícios e riscos.
Introdução
Tokenização deixou de ser só tese de “DeFi do futuro” e começou a entrar no lugar mais sensível do sistema financeiro: a dívida pública. Em 12 de dezembro de 2025, o Paquistão anunciou um memorando de entendimento com a Binance para explorar a tokenização de até US$ 2 bilhões em ativos soberanos — incluindo títulos do governo, treasury bills e reservas de commodities.
No mesmo movimento, o país também sinalizou que quer sair do “mercado cinza” e caminhar para um ecossistema regulado: Binance e HTX receberam clearance inicial para iniciar o processo de licenciamento como exchanges locais.
A leitura estratégica é clara: criar liquidez para ativos do Estado, atrair capital e posicionar o país como hub regulado de ativos digitais.
O que foi anunciado, em termos objetivos
Pelos detalhes divulgados:
- O MoU prevê explorar a tokenização e distribuição via blockchain de ativos do governo, podendo envolver até US$ 2 bilhões, sujeito a aprovações.
- Os ativos mencionados incluem sovereign bonds, T-bills e reservas de commodities como petróleo, gás e metais (ou outras matérias-primas).
- A autoridade local informou ter dado sinal verde inicial a Binance e HTX após revisar controles de governança e compliance, permitindo registro em sistema AML, estruturação local e preparação para o pedido completo de licença.
- O pacote institucional inclui a criação de uma Virtual Assets Regulatory Authority e de um Pakistan Crypto Council, além de planos para piloto de CBDC e uma Virtual Assets Act em 2025.
Como tokenizar dívida pública funciona na prática
“Tokenizar” não é “criar um token e pronto”. Em projetos soberanos sérios, a arquitetura costuma ter quatro camadas:
Estrutura legal
O token precisa representar um direito econômico e jurídico (por exemplo, um título do tesouro), com regras de emissão, posse, transferência, resgate e eventos corporativos (cupom, vencimento).
Custódia e lastro
O ativo real (título, T-bill, commodity) fica sob custódia/controle definido. O token é uma “camada de registro e distribuição”.
Distribuição e mercado secundário
O governo (ou agentes) define:
- quem pode comprar (varejo? institucional? estrangeiro?)
- se o mercado será 24/7 ou em janelas
- como é feito o settlement (moeda local, stablecoin, CBDC, etc.)
Compliance e rastreabilidade
A promessa aqui é “infra mais eficiente”, mas com exigências fortes de KYC/AML, especialmente para atrair capital institucional.
Por que um governo tokenizaria títulos e reservas?
Há três objetivos típicos e o Paquistão sinaliza os três:
Aumentar liquidez e reduzir atrito
Títulos tokenizados podem permitir distribuição mais ampla e settlement mais rápido (dependendo do desenho), o que reduz fricções operacionais e pode melhorar a demanda marginal.
Atrair capital externo e ampliar base de compradores
Tokenização pode “embalar” dívida pública de forma mais acessível para investidores e plataformas globais principalmente se houver clareza regulatória e padrões de compliance.
Construir um hub regulado
O mesmo anúncio reforça a intenção de licenciar exchanges e criar arcabouço institucional (autoridade reguladora, conselho cripto e legislação).
O papel da Binance (e o que a exchange ganha)
Para a Binance, o movimento pode representar:
- acesso a um mercado grande via operação local regulada (se o licenciamento avançar)
- posicionamento como parceira de infraestrutura em RWA soberano (um dos temas mais quentes do ciclo de tokenização)
- ganho de credibilidade institucional por atuar dentro de uma trilha formal de compliance (o que influencia bancos, PSPs e ramps fiat)
Mas é importante não romantizar: qualquer parceria público-privada em infra financeira envolve risco reputacional, risco regulatório e risco operacional e o sucesso depende do “manual” final (lei, regras, auditoria, custódia, transparência).
O que isso pode significar para o mercado cripto global
Esse tipo de iniciativa tende a acelerar duas tendências:
- tokenização como infraestrutura (não só “aplicativo cripto”)
- convergência entre cripto e mercado tradicional via RWA, stablecoins e (eventualmente) CBDCs
O próprio anúncio da Reuters cita que outros países vêm ampliando regras formais de licenciamento para exchanges em paralelo ao tightening regulatório global.
Riscos e pontos de atenção
Tokenização soberana não elimina risco ela muda a embalagem do risco.
Risco jurídico e de execução
Se o token não garantir direito claro de resgate/posse, o investidor pode ficar com um “recibo digital” frágil.
Risco de contraparte e custódia
Mesmo com blockchain, ainda existe risco de custódia, de intermediários e de falhas de governança.
Risco de mercado e soberano
Dívida pública carrega risco de taxa, câmbio, liquidez e em emergentes risco político e de controle de capital.
Risco de compliance
KYC/AML e regras de transferência podem limitar liquidez real. Projetos “globais” tendem a ser mais restritos do que o marketing sugere.
Checklist: como avaliar um projeto de tokenização soberana (sem cair em hype)
- Existe lei/regra que define o token como representação válida do ativo?
- Quem é o custodiante/registrador do ativo real? Existe auditoria?
- Qual a política de resgate (redemption) e eventos de cupom/vencimento?
- O mercado secundário tem regras claras (eligibilidade, horários, formador de mercado)?
- Quais são as exigências de KYC/AML e se elas travam a liquidez?
- Que “rails” serão usados no settlement (fiat, stablecoin, CBDC)?
FAQ
O Paquistão já tokenizou US$ 2 bilhões em ativos?
Não. O anúncio fala em explorar a tokenização “até US$ 2 bilhões”, via MoU, sujeito a aprovações.
Que ativos podem entrar nessa tokenização?
Foram citados títulos soberanos, treasury bills e reservas de commodities (como petróleo, gás e metais).
Binance e HTX já estão totalmente licenciadas no Paquistão?
Ainda não. Foi reportado um sinal verde inicial para começar o processo (registro AML, estrutura local e preparação para aplicação completa).
Isso é “bom” para cripto?
Pode ser um marco para RWA e regulação, mas também pode aumentar exigências e restringir operações. É um tema de infra + compliance, não “lua”.
Tokenização reduz risco para o investidor?
Não necessariamente. Ela pode melhorar eficiência e transparência, mas risco jurídico, soberano e operacional continua existindo.
Conclusão
O movimento do Paquistão com a Binance é uma tese grande: usar tokenização para ampliar liquidez e atrair capital para ativos do Estado, enquanto constrói um ecossistema local com licenciamento e governança.
Se der certo, vira case de “governo usando rails cripto para financiar o próprio mercado”. Se der errado, vira case de risco jurídico, execução regulatória e confiança.



