Entenda por que tantos brokers estão migrando de opções binárias para event contracts e prediction markets, como a regulação está apertando o cerco e quais oportunidades (e riscos) isso abre para o varejo.
Nos últimos anos, o termo “opções binárias” passou a carregar um peso regulatório e reputacional difícil de ignorar. Bans na Europa, intervenções de reguladores e casos criminais envolvendo plataformas e influenciadores criaram um ambiente hostil para esse tipo de produto.
Ao mesmo tempo, um “primo” das binárias vem ganhando força: os event contracts e prediction markets, que permitem operar resultados de eventos de forma binária (0 ou 1), mas com uma roupagem de mercado regulado, livro de ordens, clearing e governança muito mais sólida. Fornecedores de tecnologia como a Devexperts lançaram frameworks de event-based trading feitos sob medida para que brokers de CFDs e exchanges possam entrar nesse segmento com infraestrutura profissional, seja plugando em bolsas existentes, seja rodando a própria plataforma.
Neste artigo, você vai entender:
- Por que event contracts viraram a alternativa “oficial” às opções binárias;
- Como as corretoras estão reempacotando o produto usando tecnologia de prediction markets;
- O que reguladores como ESMA, FCA e CFTC estão fazendo e o que isso sinaliza para o futuro do setor;
- Riscos, oportunidades e como navegar esse cenário sem cair na armadilha de “aposta disfarçada de investimento”.
O que são event contracts e por que viraram alternativa às opções binárias
Na prática, um event contract funciona de forma muito parecida com uma opção binária:
você negocia um contrato que paga 1 unidade monetária se o evento ocorrer (por exemplo, “taxa de juros do Fed será maior que X na próxima reunião”) e 0 se não ocorrer. O preço do contrato (ex.: US$ 0,34) representa a probabilidade implícita (34%) daquele evento acontecer.
A diferença não está tanto no payoff, e sim em como esse produto é estruturado:
- Os contratos são listados em bolsas ou plataformas com livro de ordens (order book), em vez de simples “botões de call/put” contra a própria corretora;
- Há regras claras de criação, liquidação e resolução de eventos, com critérios objetivos (ex.: fonte oficial de dados macro, calendário econômico, regras de revisão);
- Em muitos casos, a corretora atua como intermediária de uma bolsa registrada, e não como contraparte em todos os trades.
Além disso, grandes players globais vêm validando o espaço:
- Interactive Brokers oferece “forecast contracts” regulados, com liquidação 0/1 e negociação quase 24/5 via subsidiária regulada.
- Exchanges cripto e fintechs se aproximam de prediction markets via parcerias (como o movimento da Coinbase com uma bolsa de eventos regulada).
Isso tudo ajuda a reforçar a narrativa de que event contracts no lugar das opções binárias podem ser uma forma mais transparente e institucional de acessar esse tipo de payoff binário.
Como as corretoras estão “reempacotando” opções binárias com tecnologia de prediction markets
A grande mudança em 2025 não é apenas de nome, mas de stack tecnológico. Em vez de painéis simplificados de binárias, brokers começam a falar em:
- “event-based trading”;
- “prediction markets”;
- “forecast contracts”.
Plataformas white label e frameworks enterprise
Fornecedores especializados em tecnologia para mercado financeiro lançaram soluções de prediction markets e event-based trading focadas em brokers e exchanges:
- A Devexperts, por exemplo, lançou uma oferta de event-based trading que pode ser usada como plataforma standalone ou integrada ao stack existente do broker, com frontend, matching engine, criação e resolução de contratos e suporte 24/7.
- A mesma empresa promove uma solução de prediction markets integrada ao DXtrade, mirando corretoras que querem entrar nesse segmento sem ter que construir toda a infraestrutura do zero.
Para o broker, isso significa:
- Time-to-market menor para lançar event contracts;
- Mais facilidade para adaptar regras de produto conforme exigências de reguladores;
- Possibilidade de operar tanto em modelo B2C (via própria marca) quanto B2B (fornecendo liquidez ou white label).
Integração com infraestrutura existente de CFDs, FX e cripto
Outro ponto crítico é que as novas plataformas de event contracts:
- Podem compartilhar KYC, onboarding, backoffice e relatórios com o ambiente de CFDs/FX;
- Permitem que o broker ofereça event contracts lado a lado com derivativos tradicionais e cripto, em uma única experiência de app;
- Facilitam a gestão de risco ao usar engines de margem, limites de exposição e monitoramento já aplicados a outros produtos.
Isso é muito diferente da lógica de muitas antigas plataformas de binárias, que operavam quase como “caixas pretas” isoladas, com pouca transparência sobre risco, liquidez e formação de preço.
UX “gamificada” com governança de mercado regulado
Na camada de experiência do usuário, os event contracts continuam apelando para a intuição do varejo:
- Perguntas simples (“o Fed vai subir ou cortar juros?”, “a inflação de amanhã vem acima de X?”);
- Tickets pequenos (US$ 10, US$ 50), com payoff claro de 0 ou 1;
- Interface leve, muitas vezes mobile-first.
Mas por trás dessa UX “simples” existe:
- Livro de ordens visível, com profundidade de mercado;
- Regras de resolução publicadas;
- Em muitos casos, supervisão de um regulador de derivativos, como a CFTC em bolsas registradas.
É aí que entra a tese central: reempacotar opções binárias em estruturas de prediction markets e event contracts pode ser uma forma de sobreviver ao inverno regulatório, mas não elimina o risco intrínseco do produto.
Regulação pesada: bans, intervenções e re-enquadramento jurídico das opções binárias
Para entender por que os brokers estão olhando para event contracts no lugar das opções binárias, é preciso voltar alguns anos e olhar o cenário regulatório.
ESMA e FCA: bans e medidas definitivas na Europa
Na União Europeia, a ESMA usou seus poderes de intervenção de produto para proibir a comercialização de opções binárias para clientes de varejo a partir de julho de 2018, renovando a medida por vários trimestres, citando perdas sistemáticas para o cliente e assimetria de informação.
Em seguida:
- Reguladores nacionais passaram a adotar proibições permanentes, tornando desnecessária a renovação da medida temporária da ESMA.
- No Reino Unido, a FCA implementou um ban definitivo à venda de binárias para o varejo em 2019, alegando que o produto era “inadequado” para a maioria dos investidores e frequentemente ligado a fraude e abuso de mercado.
Ou seja: na Europa, o espaço para “binárias clássicas” praticamente desapareceu o que empurra brokers para formatos mais bem enquadrados juridicamente.
CFTC e o debate sobre event contracts: trading ou gambling?
Nos EUA, o foco recente da CFTC tem sido justamente os event contracts:
- Em 2024, a Comissão publicou uma proposta de regra para definir quais tipos de contratos de evento seriam contrários ao interesse público sob o CEA, com atenção especial a contratos ligados a jogos, política, guerra, terrorismo e atividades ilícitas.
- O regulador observa um aumento forte na variedade e no volume de event contracts listados em bolsas registradas, incluindo contratos sobre eleições, decisões de política econômica e até esportes.
Ao mesmo tempo, o debate “trading vs gambling” se intensifica:
- Empresas como Kalshi defendem que seus contratos não são apostas, destacando que seguem o arcabouço de derivativos, têm clearing e não lucram diretamente com as perdas do cliente.
- Já o regulador pressiona, inclusive pedindo que plataformas como a Robinhood recuassem de certos contratos ligados ao Super Bowl, por entender que se aproximavam demais de aposta esportiva.
O recado é claro:
o problema não é apenas o payoff binário, mas o tipo de evento, o público-alvo e como o produto é vendido.
Casos criminais e estigma sobre plataformas de binárias
Além das medidas de produto, casos criminais contra plataformas de binárias e influenciadores que promoveram operações ilegais ou enganosas reforçaram o estigma. Diversos relatórios de advocacia e reguladores destacam:
- Esquemas de fraude, manipulação de preços e não pagamento de saques;
- Marketing agressivo com promessas de enriquecimento rápido, muitas vezes via influenciadores digitais.
Isso tudo alimenta a busca de brokers sérios por uma alternativa:
- Produtos que mantenham o apelo do payoff binário,
- Mas que possam ser oferecidos dentro de um arcabouço de mercado organizado, compliance e transparência.
O que o movimento de event contracts significa para brokers e traders
Para brokers: oportunidade de reposicionamento — com responsabilidade
Do ponto de vista de quem opera plataforma, event contracts no lugar das opções binárias oferecem:
- Menos fricção reputacional: falar em “event-based trading”, “forecast contracts” ou “prediction markets” vinculados a bolsas reguladas é muito diferente de vender “binárias de 60 segundos”;
- Modelo de risco mais saudável, com possibilidade de atuar como intermediário de uma bolsa, em vez de tomar a contraparte de todos os clientes;
- Flexibilidade de produto: é possível criar contratos sobre macroeconomia, política, clima, índices, etc., com regras claras de liquidação.
Mas isso não significa “passe livre”:
- A linha entre derivativo e aposta continua sensível;
- Reguladores analisam com lupa eventos sensíveis (política, guerra, esportes, criminalidade);
- A responsabilidade de suitability, transparência de risco e proteção ao investidor permanece e, em alguns casos, aumenta.
Para traders: o risco continua alto (e pode parecer ainda mais “divertido”)
Para o varejo, a experiência de operar event contracts pode ser ainda mais atraente:
- Tickets acessíveis, payoff binário simples, UX divertida;
- Narrativa de “opinar sobre o mundo real” (Fed, inflação, eleições, clima, esportes);
- Plataformas com aparência mais “institucional” do que muitas antigas corretoras de binárias.
Isso traz dois riscos principais:
- Percepção de segurança exagerada:
só porque o produto roda numa bolsa regulada ou numa corretora conhecida não significa que o risco de perda diminuiu. Em muitos contratos, a probabilidade de perda continua alta especialmente para quem gira demais ou opera sem estratégia. - Confusão entre investir e apostar:
o trader pode acreditar que está “investindo em macro” quando, na prática, está apostando em eventos binários com alta incerteza, muitas vezes sem gestão de risco adequada.
Por isso, mesmo em estruturas mais sérias, é essencial reforçar:
- Gestão de banca;
- Definição de limite de perda;
- Entendimento de probabilidades e valor esperado;
- Consciência de que é possível perder 100% do capital alocado em cada contrato.
FAQ: perguntas frequentes sobre event contracts no lugar das opções binárias
1. O que são event contracts e como eles se comparam às opções binárias tradicionais?
Event contracts são contratos que pagam 1 ou 0 dependendo do resultado de um evento bem definido, como uma decisão de juros ou um dado de inflação. Na prática, o payoff é parecido com o de uma opção binária, mas a diferença está na estrutura de mercado: geralmente há livro de ordens, regras de liquidação públicas e, em alguns casos, supervisão de um regulador de derivativos.
2. Por que tantos brokers estão olhando para event contracts no lugar das opções binárias?
Porque o termo “opções binárias” foi muito associado a fraude, marketing agressivo e perdas sistemáticas do varejo, levando a bans e restrições em mercados importantes como Europa e Reino Unido. Event contracts permitem manter o formato binário, mas com governança de mercado organizada, tecnologia moderna e um discurso mais alinhado a “gestão de risco” e “previsão de eventos”.
3. É mais seguro operar event contracts do que opções binárias?
Não necessariamente.
O fato de um produto estar bem estruturado e, em alguns casos, regulado, não elimina o risco de perda. Event contracts continuam sendo instrumentos de alto risco, onde você pode perder 100% do capital alocado em um contrato. A vantagem está mais na transparência, na clareza das regras e na redução de conflitos de interesse, mas a gestão de risco continua sendo responsabilidade do trader.
4. Esses produtos são considerados investimento ou aposta?
Depende da jurisdição, do tipo de evento e da forma como o produto é desenhado. Em alguns países, contratos sobre eventos econômicos são vistos como derivativos legítimos, enquanto contratos sobre esportes ou política podem ser considerados apostas e até proibidos por reguladores como a CFTC em certas condições. A própria CFTC discute explicitamente quais event contracts são contrários ao interesse público e se aproximam demais de gambling.
5. Um broker que hoje oferece binárias deveria migrar para event contracts?
Do ponto de vista estratégico, sim, faz sentido estudar seriamente essa migração, porque o vento regulatório sopra contra as binárias tradicionais. Mas essa transição exige:
- Rever o modelo de negócio (especialmente se a corretora atua como contraparte direta);
- Escolher parceiros tecnológicos com histórico sólido em mercados regulados;
- Ajustar marketing, documentação e política de risco para evitar enquadramento como simples “aposta online”.
Além disso, qualquer decisão deve ser tomada com assessoria jurídica especializada na jurisdição onde o broker atua.
6. Como o trader comum pode se proteger ao operar event contracts?
Algumas boas práticas:
- Tratar event contracts como produtos especulativos de alto risco, não como investimento de longo prazo;
- Limitar o percentual da banca destinado a esse tipo de operação;
- Evitar operar eventos que você não entende (ex.: dados macro complexos);
- Desconfiar de qualquer promessa de “taxa de acerto absurda” ou “fórmulas mágicas” vendidas por influenciadores;
- Lembrar que, mesmo em plataformas reguladas, não existe garantia de lucro.
Conclusão: como se preparar para a transição de opções binárias para event contracts
O movimento de event contracts no lugar das opções binárias não é apenas uma troca de nome, é uma tentativa do mercado de:
- Ajustar o produto a um arcabouço regulatório mais aceitável;
- Reduzir conflitos de interesse, aproximando-se de modelos com livro de ordens e bolsas registradas;
- Conectar o apelo binário à narrativa de “prever eventos reais” em política, macroeconomia e mercados globais.
Ao mesmo tempo, reguladores como ESMA, FCA e CFTC deixam claro que não vão tolerar produtos que cruzem a fronteira para o puro gambling, especialmente quando direcionados ao varejo sem transparência e sem proteção adequada.
Se você é broker ou está construindo uma plataforma, o próximo passo lógico é:
mapear como a sua oferta atual se encaixa nesse novo cenário, avaliar soluções tecnológicas de prediction markets/event-based trading e desenhar uma jornada de migração que respeite regulação, gestão de risco e educação do cliente.
Se você é trader, a recomendação é simples e honesta:
- Encare event contracts como instrumentos de alta especulação;
- Use gestão de risco rígida;
- E lembre-se de que nenhum formato (binárias, event contracts ou prediction markets) transforma risco elevado em dinheiro fácil.



